Nico Betancur: De Medellín para Sydney
“Eu acho que nós, estudantes internacionais, estamos sempre fazendo alguma coisa e daí chega o coronavírus e diz ‘não, você não pode fazer nada’. E o governo não vai te ajudar e você tem que seguir pagando as contas e seguir continuando com a vida, e isso não é fácil,” comenta Nico Betancur, estudante colombiano na Austrália. “Temos que estar agradecidos pela oportunidade de estar aqui e também valorizar todas as coisas que nós tivemos, porque agora nada vale nada. Não temos nada”.
Nico mudou de Medellín para Sydney faz mais de quatro anos, para morar com parte da família que já vivia na Austrália. Aluno universitário, ele narra as dificuldades de estudar de casa em um idioma que não é o seu, em um lar onde não se fala inglês. “Ficou muito mais complicado. É muito mais difícil de se concentrar no inglês, nos trabalhos, e não tem a ajuda do professor logo ali. E como a minha família fala espanhol, fica muito complicado. Eu gostava de sair, de ir para a universidade, passar o dia lá e conhecer gente, sabe? E ao estar em confinamento, as vezes a gente fica muito desmotivado,” conta.
Ele também acrescenta sobre os desafios de manter as amizades enquanto migrante, que se intensificam em um momento como esse. “As vezes as pessoas não se dão conta de que a gente vem sozinho e começa a conhecer gente e fazer amigos no processo. Mas os amigos vêm e vão porque você faz um amigo que é de um país e ele volta e você fica. E chegam outros, e eles vão e você fica e isso é muito custoso,” diz. “E justo com essa pandemia, tem muita gente que foi, ou que não chegou e é muito triste. As vezes eu penso que estar em isolamento é complicado, mas mais complicado é quando passar isso e os seus amigos não estiverem mais aqui.”
Além disso, a família que está na Colômbia é motivo de preocupação extra nesses tempos. “Eu tenho saudade do meu país e da minha gente, especialmente da minha mãe. Me entristece que a minha família pode chegar a se infectar pelo vírus e estamos tão longe que não podemos fazer nada. É triste que se acontecer algo, não vamos poder nos ver pessoalmente,” comenta com pesar. “Acho que as vezes, por estar na Austrália, eu não falo tanto com eles, porque acho que não preciso mas agora faz falta. Esse coronavírus realmente me fez pensar que eu sou muito agradecido a família.”

Foto cedida por Nico Betancur
Em contrapartida, o confinamento o aproximou dos familiares que dividem a mesma casa com ele nessa pandemia. “É engraçado, mas depois de quatro anos, nós sentamos todos juntos na mesa para jogar um jogo! Estamos mais unidos e conhecendo mais uns dos outros e isso sim me surpreendeu muito. Nesse aspecto, a pandemia nos ajudou muito a estarmos mais juntos,” conta o colombiano com entusiasmo.
Para Nico, esses são tempos de reflexão, e de aprender a valorizar as coisas simples e os momentos que compartilhamos com quem amamos. Ele ainda acredita que é uma boa fase para descobrir (ou redescobrir) quais são as atividades que te fazem feliz e as que nem tanto. “Eu tinha esquecido do quanto eu gostava de ler, por exemplo, ou eu nem sabia que podia pintar e um dia eu decidir pintar. E bom, são coisas que eu tenho feito para conhecer a mim mesmo. Acho que temos uma oportunidade de quando isso passar de, se por exemplo, você nunca gostou de fazer algo, então não faça porque você não sabe se a situação vai voltar a piorar,” explica.
Mas a música e os ritmos da América Latina ainda são o que mais o motivam para seguir adiante em momentos de incerteza. “É o que mais tem me ajudado. Eu acordo, coloco a minha musiquinha no fone de ouvido e vamos. Daí sei que isso vai passar,” finaliza.